domingo, 8 de fevereiro de 2009

Hércules, Helena e o nado-livre

Patos - Paraíba
6° dia |
Mais espíritos, pipoca e baião de dois. Após algumas voltas pela praça central e passeios notívagos, finalmente ficamos fora do quarto de Pequeno por mais de três horas consecutivas, o fato é que por insistência de Carol, Ingrid e minha, Pequeno cedeu e trocou uma tarde com dois filmes e ventilador por uma árdua pedalada até o Açude Jatobá.

Dia 07 de fevereiro, tarde de sábado. Conseguimos duas bicicletas emprestadas, a de Vinícius, irmão da Carol e de Evanes, tia de Pequeno que todos os dias faz exercício em sua bicicleta, porém naquele dia não iria fazer, pois Pequeno a tomou a bicicleta emprestada sem avisar. Então eramos quatro pessoas para dividirem duas bicicletas, Carol foi no quadro de Pequeno e Ingrid no meu, tudo resolvido. O caminho era asfaltado em sua maioria, mas como sábado a tarde é sábado a tarde, as ruas estavam tomadas por pessoas, era a primeira vez que viamos muitas pessoas em Patos e vimos também uma lista de outros animais a não ser cachorro, gato e pessoas. Eram galinhas, vacas, cavalos, jumentos e se não me falha a memória eu vi um pato, não tenho certeza mas acho ter visto um pato. Sabe aqueles documentários da Discovery Channel em que mostra aquelas ruas super caóticas de países em desenvolvimento da áfrica com pessoas atravessando as ruas com super caixas sobre suas cabeças, caminhões pelas ruas tomados por mercadorias e pessoas, crianças peladas correndo e bicicletas, carros e motos cruzando as ruas de um lado para outro quase se tocando e fazendo muita poeira subir pelo ar. E foi por esse enxame de fenômenos que atravessamos montados em nossas bicicletas.


Dentro de menos de trinta minutos, muito suor derramado e uma vasta apreciação da periferia de Patos, chegamos a nosso destino. Açude Jatobá, represamento de água doce que abastece a cidade de Patos. O solo da região é basicamente composto por rochas cristalinas, o que contribui para o açude permanecer cheio o ano inteiro. Além de água o Açude Jatobá estava cheio de pessoas que naquela ocasião foram até ele usufruir o seu potencial hídrico e fazer de seu sábado um dia mais feliz, então levaram seus utensílios para diversão em passeios aquáticos, din-din, cachaça e bikinis. Pessoas de todas as cores e tamanhos, crianças fumando e uma gangue de adolescentes e crianças extrapolando sua energia em saltos ornamentais da casinha das abelhas que é uma espécie de píer que penetra o Açude Jatobá aproximadamente 25 metros e naquele dia estava a uns 15 metros de altura entre seu topo e as águas do Jatobá. Nos deliciamos naquelas águas mornas, nado-livre no sertão paraibano em nosso primeiro momento de fuga parcial da Babilônia. De peitos para o ar permanecemos por algum tempo nadando com as piabas e após isso nos dirigimos a ponte que dá acesso a casa das abelhas. Uma de minhas maiores tentações é ver uma base sólida sobre alguns palmos de água, tentação essa que foi aguçada graças aos belíssimos saltos que os nativos estavam a efetuar. Cheguei um pouco tímido, pois eles eram muitos e pareciam se conhecer muito bem desde anos de mergulho e convivência, demonstravam um certo entrosamento em seus saltos e maneira de se mover naquele píer com pouco mais de 1 metro de largura, mas minha timidez não demorou um minuto e logo corri e saltei de cabeça no Jatobá e aquela gangue juvenil gritava, “Jesus! Jesus!”. Um dos saltos mais comuns que existe é aquele em que o ser humano projeta-se em direção a água com os pés para o ar e cabeça para baixo entre os braços completamente estendidos, fazendo uma espécie de flecha e por esse motivo os patoenses chamam esse pulo de flecheiro. Só foi preciso um flecheiro para ganhar a simpatia de Hércules, um homem em miniatura, um hobbit negro que se dirigiu para mim nadando e falou:
- Te desafio!
Claro que eu entendi o que ele quis dizer, mas foi tão de supetão que me pegou de surpresa e fiquei confuso. Então perguntei:
- Como?
E ele retrucou:
-Te desafio!
- Como assim?
- Eu dou um pulo e você tenta me superar.
Eu já sabia que ali estava assinando meu atestado de óbito, mas um dia antes eu havia assistido “O Lutador” e nem deu tempo de pensar na vida e nem no perigo que ela corria e também de supetão respondi.
- Feito.
Dali em diante todas as atenções se voltaram ao pequeno Hércules que se dirigia ao píer com seu passo de classe. Eu não saberia descrever aqui o movimento exato daquela pirueta executada por ele. Se aquele salto tivesse um nome ele seria, A Giroleta. Ele ficou de costas para a água e simplesmente se deixou levar pela gravidade e no meio do caminho fazia uma espécie de folha seca e seus pés trocavam de lugar com sua cabeça e antes de chegar na água, ou seja em e segundo ele executava no mínimo quarenta e sete movimentos. Eu podia ouvir aplausos vindos de todas as partes do sertão. Eu precisaria me mudar para Patos e fazer um treinamento intensivo para em dois anos concluir aquele salto. Mas eu já estava diante do inferno então precisava abraçar a besta. Corri e nada mais fiz que um flecheiro com heavy metal nas mãos e gritei:
-Gorgoroth!
A beleza deu lugar ao cômico então não perdi a moral nem a chance de aprender um pouco com o pequeno Hércules, que ajudei a subir na casinha que fica na ponta do píer, aumentando em mais de dois metros a altura do salto. De lá demos mais algumas piruetas, aprendi o pulo da sereia, nos despedimos da Gangue do Mergulho da Paraíba e finalmente voltamos para casa. Montados nas bicicletas e fazendo o caminho oposto. Assaltamos a despensa de Carol, pegamos granola, açaí e banana. De volta ao Calabouço de Sauron, unimos todos os ingredientes no liquidificados junto a outros componentes mágicos e tomamos cada gole para revitalizar as energias. Mais voltas pelas ruas de Patos e a noite foi concluída com a edição do ‘Algaroba Holocausto’, filmagem que fizemos juntos há um ano atrás, em fevereiro de 2008 no Sítio Ypiranga na cidade de São Vicente. Em mais de 3 horas de edição e só concluímos um minuto de vídeo, graças à tecnologia contra nós e o Movie Maker travando a todo o momento a edição está paralisada.





Dia 08 de fevereiro, tarde de domingo. O sábado e o domingo haviam se confundido, fomos dormir já de manhâ lutando com o editor de vídeo então acordamos bem tarde e Carol e Helena nos esperavam para nos levar ao Espinho Branco, então rapidamente nos aprontamos, Ingrid aprontou uma macarronada com asteróide deliciosa e seguimos em caminhada para a casa das garotas. O Espinho Branco é um complexo natural distante alguns quilômetros, mas nada que uma caminhada de uma hora em um bom ritmo não supere. No meio do caminho havia uma poça de água com esgoto enorme e não daria para passarmos e quase que nossos planos iam por água abaixo de maneira literal. Mas como bons caroneiros, esperamos menos de cinco minutos e uma pick-up da empresa de energia local parou e além de nos atravessar pelo poço nos deu uma ótima adiantada de caminho levando-nos para perto do nosso alvo. A estrada era de areia com muitas pedras de fogo e parecíamos estar em um túnel, pois dos dois lados estávamos cercados por arbustos e Helena como uma louca saiu como uma louca por entre os arbustos do caminho. O sol já estava perto de se pôr quando chegamos lá, o Espinho Branco é um inselberg branquinho que esculpe bem o coração do sertão da Paraíba com águas mornas ao seu redor, que se liga ao Jatobá e também fornece água para a população patoense. Nadamos muito e dessa vez com a cachorrinha Helena arranhando nossos corpos. A água parecia que havia saído de um chuveiro elétrico configurado em alta temperatura, foi um banho Charles Bronson. Mal vimos o tempo passar e logo a lua cheia era refletida ao nosso lado naquelas águas já escuras como a noite. O nosso astro, refletor natural nos guiou por entre os arbustos e como numa loteria o carro da empresa de energia local estava voltando de seu serviço exatamente no momento que trafegávamos o túnel de pedra e areia, então mais uma vez parou para nos prestar caridade e subimos os cinco, Ingrid, Carol, Pequeno, Helena e eu. Cruzamos toda a estrada e atravessamos a poça de água e esgoto nos levando de volta a civilização para perto das ruas de pedra e pedra.

Então fomos para mais uma noite em direção ao Calabouço de Sauron abraçar mais horas de pipocas, baganas, espíritos e assassinos dementes, só que dessa vez na companhia de Slash o flerte-fatal e Thiago o Nerd.






E acaba mais um dia na cidade dos metaleiros com visual de caça as cabritinhas.

PS: O blog agora será escrito com parágrafos graças à sugestão de Macarrão. Assim facilita a leitura e fica mais bonito.

3 comentários:

Sauron disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sauron disse...

Eu só me lasco nesses rolés naturais e o pior de tudo é que se me chamarem eu vou de novo.

Anônimo disse...

Sauron réi safaadoo!! tu gosta!! fica de firullaa!!